Deus | O Ódio Entre Irmãos Impede Ouvir A Voz de Deus

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As Origens da Crise no Relacionamento familiar que causam o ódio entre irmãos e impede ouvir a voz de Deus – Gn 37.1-11

O Ódio Entre Irmãos Impede Ouvir A Voz de Deus, uma analise de José e sua família. Jacó, pai de José, vivia em Canaã (1). Ele tinha 12 filhos: Ruden, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zebulom, Dã, José, Benjamim, Naftali, Gade e Aser (1Cro 2.1,2). José, aos 17 anos (2), apascentava o rebanho com os filhos de Bila e de Zilpa, mulheres de seu pai. Bila (Bilha ou Bala) serva de Raquel, dada a Jacó, (Gn 30.1-8). Zilpa (ou Zelfa) era escrava de Lia, que ela deu a Jacó, para que tivesse mais filhos e conquistasse seu marido, (Gn 29.24; 30.9-13).

Comportamento Mal

Ruben praticou incesto com Bila. Jacó soube disso e não fez nada de imediato para punir o filho. Deixa claro que o filho é mais importante que a escrava. Embora Jacó tivesse se deitado com ela, esta não passava de uma escrava para ele.  Porém, na sua benção aos filhos, condena o ato louco de Ruben, (Gn 35.22; 49.3-4).

José levava más notícias de seus irmãos a seu pai (2). Israel (Jacó) amava mais a José por ser o filho da sua velhice e, de sua mulher amada, Raquel, por quem trabalhara 14 anos. Por isso fez para José uma túnica de várias cores1. Seus irmãos o odiavam e o injuriavam por isso (4-11). José (que quer dizer: possa o Senhor acrescentar) teve dois sonhos que significava que ele reinaria sobre sua família (5-11). Seu pai o repreendeu por isso.

Sentimentos diversos de ódios, invejas, enganos e privilégios que fizeram dessa família um excelente estudo de casos para servir de modelos a todas as famílias com seus dramas. Veremos a seguir como o ódio entre irmãos impede ouvir a voz de Deus.

O Filho Amado Odiado

Os sonhos de José tinham uma mensagem de Deus. Deus iria realizar algo para preservar-lhes a vida. Assim, Deus cumpriria a promessa feita a Abraão, de lhe dar descendência numerosa e abençoada (Gn 12.1-4). José seria um instrumento nesse plano divino. Deus conduziria os descendentes de Abrão ao Egito onde ficariam por quatrocentos anos até que “a medida da iniquidade dos amorreus”, isto é, Canaã estivesse no ponto de sofrer o juízo divino (15.13-16). José seria eleito por Deus para salvar Israel da morte pela fome que viria, e para preservar a descendência de Abraão, de quem nasceria o Messias.

Jacó fez uma túnica “cerimonial com ornamentos, ostentosa e provocante2para José. Por ser o preferido do papai, José conquistou a rejeição de seus irmãos, e seus sonhos foram vistos como vaidade e prepotência. Talvez fosse mesmo anunciado assim, já que se tratava de um rapaz de 17 anos, inexperiente. Os sonhos de José não foram aceitos como recado de Deus, por causa do ódio e dos ciúmes de seus irmãos. O ódio deles tinha como raiz também o fato de José levar más notícias deles a Jacó. Mas isso que José fazia não era fofoca. Lembremo-nos que o sistema era patriarcal. Jacó era o juiz, o líder. Se inquirido pelo pai, José teria que dizer a verdade (Lv 5.1). E a verdade é que seus irmãos não produziam nenhuma boa notícia.

Os Sonhos de Deus para José e Sua A Família

Os sonhos de José também não foram aceitos por Jacó. Mas este, mais experiente, pensava consigo mesmo se Deus não teria um propósito para a vida do rapaz.

Bila e Zilpa certamente se sentiam como objetos de Jacó e de suas esposas, Lia e Raquel. Como eram tratadas: escravas ou esposas? Havia igualdade entre elas fora da cama? Ou eram apenas escravas reprodutoras?

Mulheres idólatras, quando tratadas dessa forma, o que ensinariam a seus filhos?4. Talvez isso explique o mau comportamento de Dã, Naftali, Gade e Aser, filhos dessas mulheres (2).

O Ódio Entre Irmãos Impede Ouvir A Voz de Deus, Ensinos para Igreja

A igreja é como uma grande família, comunidade de irmãos, e precisa ser justa na trato com as pessoas (1 Tm 5.1-25) a fim de evitar ciúmes e contendas por privilégios. Precismos evitar o ódio entre irmãos para que possamos ouvir a voz de Deus. Entretanto, espera-se que os cristãos sejam maduros espiritualmente e venham vencer tais desajustes. O papel do desequilíbrio é produzir o equilíbrio.

Vemos na história de Jacó e sua família muitos dramas que podem nos trazer lições para nossos relacionamentos familiares hoje. Entretanto, nós devemos encarar os dramas da vida. Para os hebreus, Deus não ficava de fora de nenhum aspecto de suas vidas. “Era participante do drama da vida do homem5. Deus não nos abandona só porque as coisas vão mal. Ele está conosco para nos dar a vitória. Aliás, Deus, e somente Deus, pode nos dar vitórias reais. Quando as coisas vão mal, nós devemos clamar, e devemos manter o culto e a adoração a Deus, pois Ele nunca perde a dignidade. Ele é sempre digno de adoração.

O Ódio Entre Irmãos Impede Ouvir A Voz de Deus
José conta seus sonhos aos seus irmãos e eles ficam irritados

Os Sonhos na Bíblia

Sonhos, Onar (grego clássico) e enypnion (Septuaginta)6. No Antigo Testamento, no judaísmo, no mundo grego e no Oriente Próximo antigos entendia-se, geralmente, que os sonhos continham recados de Deus, especialmente os recebidos por reis e sacerdotes. Assim entenderam Jacó em Betel (Gn 28.12ss), Eli em (1Sm 3) e Salomão em Gibeão (1Rs 3.4-15). Eram tidos como um tipo de revelação divina. Às vezes correspondia a uma aparição de Deus (Gn 20.3; 28.12; 31.11; 1Sm 28.6; Jó 33.14-18).

Sonhos também podiam ser mentirosos (Jr 23.32; 27.9). Veja também a crítica de Zacarias (10.2), e a Lei (Dt 13.2-6), que recomendava a pena de morte para o sonhador que ensinava mentiras.

Onar, “sonhos”, ocorre no Novo Testamento, 6 vezes em Mateus (1.20; 2.12, 13,19, 22; 27.19). Em Atos (16.9; 18.9; 23.11; 27.23-24). Já em Atos 2.17 a palavra é anypnion.

Os sonhos podem ser: 1- sonhos vãos (Jó 20.8; Sl 73.20; 90.5; Is 29.8); 2- sonhos usados por Deus para fins especiais. Estes têm finalidade de interessar à vida espiritual dos indivíduos (Jz 7.13; Mt 27.19), e de servir de meio de comunicação (proféticos) instrutivo de Deus, numa época em que a revelação era incompleta (1 Rs 3.5; Dn 2.1,4, 36). Devem ser submetidos à prova (Dt 13.1-5; Jr 23.25-32; 29.8; Zc 10.2). Eram premonições e não teofanias (aparições divinas), como seria a Moisés mais tarde (Ex 3).

As teofanias eram meio de revelação mais desenvolvido do que os sonhos, pois nelas aparecia um agente divino (anjo), ouvia-se a voz de Deus em estado de consciência normal, ou alguma manifestação visível (Ex 3).

Revelação, Conceito

Cabe aqui um conceito de revelação, “a palavra revelar significa tirar o véu ou remover a coberta que esconde um objeto para expô-lo à vista. No Antigo Testamento o conceito limita-se exclusivamente à revelação do próprio Deus e dos mistérios divinos que o homem é incapaz de descobrir”7. Parece que José e seus contemporâneos viviam era dos sonhos. São tantos sonhadores: José, Faraó, padeiro e copeiro-chefe.

A Voz de Deus Hoje

Hoje Deus nos fala pela Palavra, Jesus (Hb 1.1). Qualquer sonho ou outra suposta manifestação ou revelação de Deus deve ser avaliada pelo crivo aferidor das Escrituras, especialmente do Novo Testamento. Podem ocorrer em situações específicas, extraordinárias, e não, comum. Muitos ao invés de ler as Escrituras vivem sonhando. Ao invés de pregar a Palavra, pregam sonhos, e até, delírios, devaneios.

Não devemos pensar que Deus inspirou os sentimentos, pensamentos e atitudes de Jacó e seus filhos para agirem como agiram. Deus não leva ninguém a pecar. Deus não foi determinista. Não os predestinou para serem o que foram. Mas Deus se serviu das motivações naturais deles para operar na história, apesar dos pecados deles. E a ação de Deus é para salvá-los dos seus pecados. Da mesma forma Deus estava esperando que a iniquidade dos cananeus chegasse a ponto de julgamento para destruí-los.

Aplicações

1 – É preciso conquistar a credibilidade para ter voz junto às pessoas. Precisamos construir uma autoimagem como mensageiros de Deus. A autoimagem de José estava desgastada pela preferência de seu pai, e talvez pela sua inexperiência de vida (1Tm 3.6,7). Porém, como Jesus disse, “Não há profeta sem honra a não ser na sua terra e na sua casa” (Mt 13.57).

2 – Quando os pais têm preferências por algum dos filhos, discriminam os outros. Coloca os seus preferidos como vilões e destroem a autoimagem deles perante os outros. Cria um ambiente de ódio, invejas e intrigas que os impede de ouvir a voz de Deus.

3 – Devemos anunciar os planos e as mensagens de Deus com humildade e no momento oportuno. Porém, às vezes não há forma delicada e simpática de dizer a verdade nua e crua (Mt 23).

4 – Deus usa os nossos dramas naturais da vida para manifestar seus planos e seu poder, e para preservar, disciplinar e santificar seu povo.

5 – Os sonhos que Deus nos dá se cumprem. Não devemos desprezar os sonhos, mas avaliá-los a luz da Bíblia.