Tempo de leitura: 10 minutos
A Compaixão de Jesus nos leva a perguntar: Quem é o meu próximo aos olhos de Jesus? (Mt 9.35-10.5). Ao andar pelas cidades e aldeias ensinando e pregando o evangelho do reino, Jesus viu as multidões como ovelhas sem pastor e teve compaixão delas.
Viu, também, que a seara é grande. Isto é, havia muito trabalho, mas poucos trabalhadores. Então ensinou a seus discípulos a orar para que Deus enviasse obreiros para sua seara. Na sequencia, treinou-os e enviou-os.
A Compaixão de Jesus e a pergunta: Quem é o meu próximo aos olhos de Jesus neste texto? O Próximo Aos Olhos de Jesus:
1 – São os concidadãos da cidade e das aldeias, abandonados pelo poder público, os pastores do povo. Estes são alvos de seu ensino, pregação, curas e Compaixão.
Jesus percorria as cidades, as polis (grego). A aldeia não era muito diferente. Era apenas uma cidadela bem menor do que a cidade.
A polis ou cidade deu origem aos cidadãos, membros da sociedade da cidade, investidos de direitos e deveres constitucionais, códigos e leis estabelecidas pela a assembleia dos cidadãos, ou pelo soberano.
A expressão máxima desses cidadãos da polis mais tarde deu origem ao Estado, que tinha o seu cidadão representante e investido de autoridade administrativa da polis. Estes, no tempo de Jesus, numa concepção governamental eram o imperador romano, os governadores, oficiais do exército, procuradores, etc.
No lado religioso, no sistema judaico: o sumo sacerdote, os sacerdotes, e servidores do templo, partidos religiosos: escribas e fariseus, saduceus, etc. Estes cidadãos de autoridade administrativa, que se originou da polis, deu origem ao “político”.
A palavra Política é de origem grega, derivada de POLITIKOS, que significava “relativo ao cidadão ou ao estado. Esta palavra por sua vez, tinha origem em POLITES, que em grego era “cidadão” e ainda tem mais um ramo: POLIS, “cidade”.
Os políticos eram os cidadãos encarregados de administrar todos os ramos da sociedade civil, no âmbito do legislativo, executivo e judiciário. Acrescenta-se a estes os partidos e organizações religiosas do judaísmo, nesse contexto.
A Palestina dos tempos de Jesus tinha população numerosa e crescente devido à presença romana, aos imigrantes e aos peregrinos. Jerusalém era a mais importante capital provincial do Império. Os romanos cobravam altas taxas de impostos, que ainda eram aumentadas pelos publicanos (compatriotas judeus credenciados pelo Império). Por isso estes eram odiados.
As autoridades religiosas, hipócritas (Mt 23), impunham ainda mais fardos pesados sobre o povo. Havia subornos, abusos de poder, descaso com as pessoas mais fracas…
Não. Eu não estou falando do Brasil, mas da Palestina no tempo de Jesus de Jesus.
Qual o elo entre esse quadro e o texto? Aqui devemos nos lembrar da base que é o Velho Testamento. Quando o Velho Testamento fala de “pastores”, como por exemplo, (Jr 23:1-6).
Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto, diz o SENHOR.
Portanto assim diz o Senhor Deus de Israel, contra os pastores que apascentam o meu povo: Vós dispersastes as minhas ovelhas, e as afugentastes, e não as visitastes; eis que visitarei sobre vós a maldade das vossas ações, diz o Senhor.
E eu mesmo recolherei o restante das minhas ovelhas, de todas as terras para onde as tiver afugentado, e as farei voltar aos seus apriscos; e frutificarão, e se multiplicarão.
E levantarei sobre elas pastores que as apascentem, e nunca mais temerão, nem se assombrarão, e nem uma delas faltará, diz o Senhor.
Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e agirá sabiamente, e praticará o juízo e a justiça na terra.
Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; e este será o seu nome, com o qual Deus o chamará: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA.
As autoridades do povo, mais tarde chamados de “políticos” foram constituídos por Deus para apascentar os seus concidadãos como o pastor apascenta as ovelhas (Rm 13). Mas, abandonaram-nas, para apascentar a si mesmos, para andarem por aí com malas cheias de dinheiro, carros de luxo, contas milionárias no exterior e vida boa.
Nosso país está do mesmo jeito da Palestina no tempo de Jesus: podre de corrupção, de subornos e imoralidades. Em consequências disso,
- 5 milhões de desempregados.
- A taxa de suicídio entre jovens é crescente. Aumentou 10% desde 2002. Em 2014, 2898 jovens se suicidaram.
- Cracolândias crescentes por todo país.
- Descaso com a saúde pública.
- Violência de todos os tipos por toda parte.
- Imigrantes e refugiados da Síria, do Haiti, da África…
Precisamos do olhar misericordioso de Jesus para essas multidões crescentes! Essas multidões crescentes são nossos próximos. Se a igreja quiser fazer uma grande colheita, terá de adaptar sua performance missionária para atender as essas multidões que estão como ovelhas sem pastor. Dentre essas multidões, muitos são nossos irmãos e irmãos.
Crianças estão morrendo abandonadas nas ruas, nos abrigos, nos guetos e entregues ao acaso. Pr Roberto Lira lembrou muito bem o texto de Mt 25.40 que diz, “Quando fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”.
Mas quando falamos, por exemplo, em adotar uma dessas crianças, alguns dizem: “Dá muito trabalho. É complicado”.
Se você não está querendo trabalho e nem complicação, então você não entendeu sua missão como cristão. Não adianta criticar o evangelho da facilidade e achar que ele está lá fora. Se nós queremos só ser abençoados, somos iguais: idólatras da boa vida.
Alguns até querem ir às cidades, mas não às aldeias. Nas cidades há competição de ministérios. Mas nas aldeias o povo está esquecido. E nem estou falando de aldeias de índios, mas de lugarejos. Jesus viu as cidades e as aldeias.
Um dos projetos de despertamento nesse sentido é a Expedição Piauí. Aventuras evangelísticas misericordiosas no sertão piauiense.
Quem é o meu próximo aos olhos de Jesus neste texto? O Próximo Aos Olhos de Jesus:
2 – São todas as Multidões aflitas e exaustas como ovelhas sem pastor alvos de seu olhar de compaixão.
Compaixão é a capacidade de compadecer. Sofrer a miséria alheia. Ter dó, misericórdia. Só duas coisas eu quero dizer sobre isso:
Primeira coisa sobre compaixão: O mundo não é um território onde reina compaixão.
O mundo jaz no Maligno (1 Jo 5.19). Daqui podemos esperar coisas horríveis! Quanto mais que a História vai caminhando para sua parte final. Satanás sabe que pouco tempo lhe resta (Ap 12.12).
Ele é um leão caçador ao derredor, rugindo e buscando a quem possa tragar (1 Pe 5.8).
Muita gente deixou de acreditar nisso. Por isso, vivem displicentemente, sem qualquer vigilância, e insubmissas a Deus. Não poderão resistir, tampouco, vencer. As cracolândias precisam ouvir isso.
Satanás não olha com compaixão. Ele olha para você como um leão olha sua presa, como um bife suculento, bom para devorar.
Quem olha com compaixão é Jesus. E tanta compaixão que foi capaz de assumir a cruz em seu lugar, em nosso lugar.
Segunda Coisa sobre compaixão: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará” (Mt 24:12)”. O amor está frio, característica de morto.
Está faltando amor até mesmo nos corações daqueles que se acham dignos do título de “Bem aventurados”, especialmente, do “Bem aventurado os misericordiosos”.
Nossa capacidade de sentir a miséria alheia está morrendo, se já não está sepultada. Somos insensíveis. Nossas entranhas não são nada comparadas às de Jesus, a quem chamamos de Senhor e Mestre.
Igrejas estão abarrotadas de dinheiro nas contas bancárias, templos “patrimônios da humanidade”, cheios de ouro, carros de luxo, e sua vizinhança morrendo à míngua. Alguns Pastores ganhando salários exorbitantes, nos padrões do mundo e outros pelejando para se manterem no ministério às próprias custas. O que acha que Deus vai fazer com esta nação?
Com 39 anos de crente, sempre envolvido na missão da igreja, já vi pastores dedicados morrerem à míngua, e outros exibirem carros de luxo. Mentalidade secularizada.
Acho que o amor morreu da maioria dos corações. A tática é: “Salve-se quem puder! A farinha é pouca, meu pirão primeiro”.
O pensamento é:
- Jesus disse que sucesso é perder a vida por amor do evangelho
- O mundo diz que sucesso é levar vantagem em tudo
- A conclusão é: Se estou no mundo, tenho de levar vantagem em tudo.
Mas o cristão não pode se esquecer de que, se de fato ele está em Cristo, então ele não é deste mundo (Não são do mundo, como eu do mundo não sou (João 17:16).
Acham que isso vai ficar impune?
Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; (Cl3:12).
O amor de Jesus é um amor entranhável. Isto é, parte de dentro do coração para se expressar em serviço ao próximo. Tendo acabado sua obra salvadora, Jesus deixou sua igreja encarregada de levá-la a outros, até os confins da terra.
No contexto de nosso texto, Ele deu uma missão estagiária aos seus discípulos. Podemos dividir a essa missão estagiária em dois tópicos:
Primeiro tópico: Orar rogando ao Senhor da seara para enviar mais trabalhadores para sua seara.
A figura da seara relembra o tempo da colheita, quando um mutirão ou a contratação de funcionários era necessário, devido à demanda do trabalho.
Mas ensina enfático: A seara tem o seu Senhor (Dono). Só Ele pode mandar obreiros para Sua seara (38).
Não dá para fazer a missão sem oração. Oração, aqui, é a solicitação de obreiros, de recursos para a obra. Qual obra? Apascentar as multidões perdidas sem pastor.
Isto deve ser feito em forma de rogos, disse Ele: “Rogai”. Isto é, pedir com perseverante humildade. Será que temos muita gente orando pedindo obreiros para obra missionária com perseverança e humildade?
O segundo tópico: Treinou-os, deu-lhes poder, e enviou-os a levar sua compaixão adiante. Expandiu seu alcance missionário.
E, chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem, e para curarem toda a enfermidade e todo o mal (Mt 10.1).
Jesus não ficou só chorando ao observar e constatar a miséria alheia. Ele tomou medidas para resolver os problemas, ensinou sobre o Reino dos Céus e enviou seus discípulos para expandir o atendimento às ovelhas perdidas.
Ame ao Senhor – Guilherme Kerr