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O Mistério das Flores com Duas Cores: Como a Natureza Divide o Trabalho para Atrair Abelhas de forma inteligente. Surpreendente!
Você já viu uma flor com duas cores diferentes em suas partes masculinas? Essa curiosidade, chamada heteranteria, sempre intrigou os cientistas. Uma planta do Cerrado, a Desmocelis villosa, tem flores com dois grupos de estames (onde fica o pólen): um grupo com cinco anteras amarelas e outro com cinco anteras roxas. Mas por que essa diferença? Será que cada grupo tem um trabalho diferente a fazer?
Um estudo recente tentou desvendar esse mistério na Desmocelis villosa. Os cientistas fizeram um experimento simples: tiraram um dos tipos de anteras das flores e observaram quantas abelhas as visitavam.
O Mistério das Flores com Duas Cores: Abelhas Amam o Amarelo, o Roxo Poliniza
Quando as abelhas vibravam nas flores para pegar o pólen (um jeito especial que algumas abelhas fazem), elas coletavam o pólen das anteras amarelas. Já o pólen das anteras roxas grudam na parte de trás do corpo da abelha, bem perto de onde o pólen encosta na flor para, então, acontecer a polinização.
Os cientistas notaram que as flores que tinham apenas as anteras amarelas recebiam mais visitas de abelhas do que as flores que tinham só as anteras roxas.
Pólen para Abelha e Pólen para Flor
Isso mostra que a Desmocelis villosa usa uma estratégia inteligente para economizar pólen. O pólen é muito importante para a planta se reproduzir, mas também é o alimento das larvas das abelhas. Essa “divisão de trabalho” ajuda a planta a não perder todo o seu pólen para as abelhas comerem.
As anteras amarelas têm menos pólen que as roxas, mesmo que os dois tipos tenham pólen bom para a reprodução. Parece que a planta guarda a maior parte do pólen nas anteras roxas, que são as responsáveis por realmente polinizar outras flores.
O Mistério das Flores com Duas Cores: Flores que Só Oferecem Pólen
Existem mais de 20 mil tipos de plantas que só oferecem pólen como recompensa para os bichinhos que as visitam. Muitas dessas plantas se adaptaram para serem polinizadas por abelhas, que precisam do pólen para alimentar seus filhotes.
Para a planta, ter só o pólen como “presente” para a abelha é um problema. Se a abelha leva todo o pólen, não sobra nada para a planta se reproduzir. Ao mesmo tempo, as abelhas são essenciais para levar o pólen de uma flor para outra, garantindo que a planta se reproduza com outras plantas da mesma espécie.
Estratégias para Não Perder Pólen Demais
Por causa desse problema, muitas plantas desenvolveram jeitos de diminuir a quantidade de pólen que as abelhas levam. A forma da flor pode influenciar como as abelhas se comportam e se o pólen é transferido com eficiência. Algumas flores têm partes que escondem o pólen, ou as anteras só abrem por um pequeno buraco na ponta.
Muitas plantas, como a Desmocelis villosa, usam a heteranteria para resolver esse dilema. Ter dois tipos de estames permite que um grupo sirva de “comida” para as abelhas, enquanto o outro grupo se encarrega de colocar o pólen no lugar certo para a polinização. Esses dois grupos de estames podem ter diferenças na posição, na cor ou na forma.
Uma Ideia Antiga, Provada Recentemente
A ideia de que flores com dois tipos de estames dividem o trabalho não é nova. Charles Darwin e Fritz Müller já pensavam nisso há muito tempo. Mas só recentemente cientistas conseguiram provar essa divisão de trabalho em uma planta da mesma família da Desmocelis villosa.
Apesar de existirem muitas plantas dessa família em diversas partes do mundo, nenhum estudo tinha feito isso no Brasil até agora. Por isso, essa pesquisa com a Desmocelis villosa é importante para entendermos melhor como as plantas do nosso país se reproduzem.
A Desmocelis villosa em Detalhes
Essa planta pode ser um tipo de erva ou um pequeno arbusto, chegando a 1 metro e meio de altura. É fácil de reconhecer por seus ramos peludos. Suas flores têm cinco pétalas rosadas e dez estames de dois tipos:
Estames menores, com anteras amarelas: Ficam mais abaixo na flor.
Estames maiores, com anteras roxas: Ficam mais perto da parte feminina da flor (estigma).
Essa planta geralmente cresce em solos úmidos, arenosos ou entre pedras, sempre perto de água. Ela é encontrada em vários países da América do Sul, incluindo o Brasil, em estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia, Piauí, Pará, Amazonas e Roraima, sendo comum no Cerrado.
Como as Abelhas Visitam
As flores da Desmocelis villosa abrem de manhã e duram menos de um dia. Elas são visitadas por abelhas de médio e grande porte, que pousam nas pétalas e vibram para coletar o pólen. As abelhas pequenas também visitam, mas às vezes pegam o pólen amarelo e o roxo separadamente.
Por causa da forma da flor, o pólen amarelo gruda em uma parte do corpo da abelha, e o pólen roxo gruda em outra parte, que é a que encosta no estigma de outras flores. Isso garante que o pólen roxo seja usado para a polinização, enquanto o pólen amarelo serve mais como alimento para as abelhas.
Conclusão:
A Desmocelis villosa mostra como a natureza é inteligente. Ao ter dois tipos de estames, essa planta consegue atrair abelhas para se alimentarem sem perder todo o seu pólen reprodutivo. As anteras amarelas servem como um “presente” chamativo para as abelhas, enquanto as anteras roxas garantem a próxima geração de plantas. Essa divisão de trabalho é uma estratégia eficaz para sobreviver no Cerrado e garantir a continuidade da espécie.
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Referências:
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