O Cristão, Relações E Guerra Espiritual

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Dos temas da Epístola aos Efésios, o melhor que já ouvi foi apresentado pelo Pastor Ivênio dos Santos: “Uma Sociedade Sem Muros”. De outras fontes (veja referências) o mais contextual é “Reconciliação dos Gentios e Judeus em Cristo”. Mas prefiro o primeiro, pois o segundo não é exclusividade da Carta aos Efésios. Outras cartas bíblicas dedicam muito à reconciliação entre judeus e gentios. Tal relacionamento era dificultoso na época. Entretanto, neste capítulo, titulamos: O Cristão, Relações E Guerra Espiritual, como veremos a seguir, baseado em Ef 6.1-24.

O que este tema tem a ver com o capítulo 6? Este capítulo tem basicamente três divisões: 1 – As relações entre pais e filhos (1-4); 2 – As relações sociais no âmbito profissional (5-9); 3 – A Concentração na guerra espiritual (10-20).

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O Cristão, Suas Relações

A primeira divisão, As Relações Entre Pais e Filhos, é continuação do capítulo anterior (5.22-33) que trata do relacionamento conjugal.

Essas divisões visam dos objetivos: 1 – A sujeição uns aos outros segundo o modelo ou como serviço a Cristo – expressão de destaque em Efésios; 2 – Guerra espiritual contra os principados e potestades da iniquidade.

Logo, os temas mencionados acima são bem significativos para se alcançar estes objetivos. Nenhuma igreja pode ser verdadeiramente vitoriosa reconstruindo os muros que Jesus removeu e/ou promovendo desunião.

Os homens estiveram sob o domínio das “hostes espirituais nas regiões celestes” (2.2), que o Pr. Ivênio dos Santos chamou de “atmosfera ambiente”. Agora, os que foram vivificados “juntamente com Cristo, ressuscitarão com Ele” e se sentarão nas “regiões celestes em Cristo”, por meio da graça de Deus e estão em guerra contra seus antigos dominadores.

As armas usadas nessa batalha são todos os recursos vindos de Deus. Portanto, a vitória é garantida.

 O Cristão, As relações dos entre pais e filhos (1-4)

Depois das instruções sobre o relacionamento conjugal (5.22-33), o Apóstolo aborda a importância do relacionamento entre pais e filhos. Observamos que no primeiro há deveres de ambas as partes, bem como, no segundo. Além disso, ambos são marcados por um mandamento que serve como base para o relacionamento da família cristã que é: “Sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo” (5.21).

Percebemos, desta forma, que a doutrina do Apóstolo não descrimina as classes conforme o mundo costuma fazer. Maridos têm deveres e responsabilidades e da mesma forma, as esposas e os filhos.

As Escrituras não compactuam com machismo ou feminismo. Ela é cristocêntrica e teocêntrica. As famílias devem ser como Deus determinou e ponto. Maridos, esposas e filhos têm papeis diferentes, mas combinam formando uma unidade.

O discurso de igualitarismo que reivindica direitos de ser o que quiser e de igualdade de papéis destrói a unidade. É como numa orquestra, se cada músico tocar o que bem entender e não ao que o maestro estiver regendo não será uma orquestra, mas, uma bagunça horrível.

O Cristão na Condição de Filho

Os filhos devem obediência aos pais. O fato de terem nascido num país democrático, com amplos direitos de liberdade, em prol da unidade em Cristo, os filhos devem obediência aos pais.

No mundo as regras podem ser outras, mas no Corpo de Cristo, as regras são de Cristo e seus apóstolos bíblicos. A cidadania dos filhos cristãos, quer tenham pais cristãos ou não, não é deste mundo, mas do reino de Deus.

Esses mesmos princípios doutrinários de conduta e relacionamento familiar estão também no Velho Testamento (Ex 20.12; Dt 5.16). Os filhos devem honrar pai e mãe. Este é um mandamento para todos em todas as épocas e lugares onde houver um Corpo de Cristo.

Este mandamento tem uma promessa: vida longa sobre a terra prometida. Muitas pessoas morrem por desobediência aos pais, por fazerem o que os pais proíbem. Não foi assim mesmo que Adão lançou toda sua geração na desgraça do pecado?

O Cristão na Condição de Pai

Os pais não devem provocar a ira dos filhos. Se por um lado os filhos não devem usar dos direitos de liberdade para desafiar aos pais, estes também não devem provocá-los.

O verbo grego usado para “provoqueis” é “parorgizo” que quer dizer “tornar zangados”, “enfurecer” (Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento) e tem o sentido de continuidade. Seria assim: “Não vivam provocando a seus filhos”. Pelo contrário, “criai-os na disciplina e admoestação do Senhor”.

Portanto, os pais têm responsabilidade de promover a paz, a harmonia, e educação com a disciplina branda do Senhor.

O Cristão e As relações sociais no âmbito profissional (5-9)

Os versículos de 5 a 9 falam dos deveres dos servos e dos senhores. Os servos ou escravos, “doulois” (Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, Vol. IV, Pg 82) devem obedecer aos seus senhores. O sentido do verbo, também tem o sentido de continuidade, como nos deveres dos pais, dos filhos e dos senhores (patrões).

É interessante observarmos que estes direitos são relacionados imediatamente com a obediência a Cristo ou em Cristo. Os filhos devem obedecer aos pais no Senhor. Os pais devem criar e educar os filhos na disciplina e admoestação do Senhor Os servos devem obedecer aos seus senhores como a Cristo. Os senhores devem deixar as ameaças, conscientes de que o Senhor não faz acepção de pessoas.

O Cristão, Relações Justas

Ah se todos vivêssemos sob senhorio de Cristo! Os empregados cumpririam seus deveres. Não fariam “cera”. Isto é, não seriam hipócritas em fingir que estariam trabalhando direito. Os senhores não seriam exploradores e injustos. Pais e filhos viveriam como amigos em todos os lares. Assim, a sociedade cristã estaria vivendo como uma orquestra sob a regência de Cristo e a Ele prestando louvor.

Embora estes termos “servos”, “senhores” estejam mais relacionados ao tipo de sociedade do tempo do Novo Testamento, os seus princípios se aplicam em qualquer sociedade, seja doméstica, comercial ou industrial. Paulo tratou deste assunto junto com o relacionamento familiar, porque estes servos eram domésticos. Eram escravos comprados ou nascidos na casa de seu senhor. Portanto, pertencentes a ele. Este era o estilo da sociedade da época (Veja as Referências). Mas os princípios de lealdade, respeito e justiça se aplicam a qualquer sociedade humana.

No verso 8 encontramos um estimulante e ao mesmo tempo uma palavra de juízo. Estimulante para quem servir com sinceridade. Juízo para os negligentes. Cada um vai receber do Senhor todo o bem que fizer, tanto o servo como o senhor.

O Cristão e Sua Concentração na Guerra Espiritual

Finalmente”, “quanto ao mais”, o apóstolo está concluindo a epístola. Mas, o que ele escreve não são simples recomendações finais. Ele passa a tratar agora de uma guerra constante da Igreja contra o reino inimigo. As pessoas outrora pertenciam a esse reino inimigo, quando então, “estavam mortos nos seus delitos e pecados” (2.1). Mas agora, estando em Cristo e andando na “luz do Senhor” (5.8), reunidos na Igreja, eles têm uma guerra tanto de defesa, pois o inimigo não se dá por vencido (1 Pe 5.8), quanto de ataque, porque as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16.18).

Esta guerra parece ser contras as pessoas, inclusive dentro da família, mas são na verdade, contra o reino espiritual da maldade.

A Igreja de Cristo é a única que tem autoridade para entrar na casa do valente, amarrá-lo e libertar os seus cativos, pois essa autoridade é dada pelo Senhor Jesus Cristo (Mt 28.18).

Porém, o Diabo não é um inimigo qualquer. Ele é “o príncipe das potestades do ar” (2.2). É preciso saber algumas coisas sobre ele. Ele é armador de “ciladas” (11), seu nome significa: “caluniador”, “acusador” (Dic. Internacional de Teologia do Novo Testamento, Vol. I, pg 378).

As intrigas do Diabo podem levar os crentes à lutarem entre si, por não saberem a natureza de seu inimigo, ou por não o considerar perigoso e forte opositor. A Bíblia fala dele como quem vem tentando destruir a humanidade desde o início (Gn 3) e com sucesso bastante para causar transtornos aos homens.

Contudo, o mais importante para o cristão é conhecer o Senhor Jesus, dono da Igreja. Este está assentado à direita do Pai nos céus, muito “acima de todo principado, autoridade, poder e domínio” (1.20,21).

Por isso, o crente deve saber que seu inimigo é astuto, mas o seu Senhor está muito acima de qualquer inimigo. É em Cristo que os crentes encontram os recursos necessários para vencer o inimigo.

Por isso há necessidade de sermos fortalecidos “no Senhor e na força do seu poder”. Assim, estaremos protegidos com todos os recursos vindos do Senhor. Só com esta força vinda de Deus podemos “resistir” e “permanecer firmes” (11).

O Cristão e As Armas Espirituais

Os recursos de Deus que o crente deve usar para a sua proteção são comparados pelo apóstolo Paulo à armadura usada pelo soldado romano. Paulo estava preso em Roma e vivia algemado a um soldado romano e via toda movimentação dos soldados nas suas incursões. Além disso, ele era um homem instruído, tinha até cidadania romana. Ele sabia o valor da armadura para o soldado e aplica isso à luta contra o Diabo.

O Cristão e O Cinto da Verdade e A Couraça da Justiça

O primeiro ato de preparo do soldado espiritual para a batalha é cingir-se com a verdade e vestir-se com a couraça da justiça. Trata-se de roupas de baixo para que o soldado pudesse receber a armadura por cima. O grego indica ação deliberada (Efésios Introdução e Comentário, Francis Foulkes). Representam prontidão para a batalha, soldado em serviço, desembaraçado (2 Tm 2.4) em busca da justiça do Reino de Deus num mundo injusto.

O Cristão Calçado Com O Evagenlho da Paz

O mesmo se pode dizer de “pés calçados com a preparação do evangelho da paz” (v 15). O sentido é o da paz shalom do Velho Testamento, bem-estar de saúde completa, física, metal e espiritual, resultante do relacionamento com Deus. Essa é a benção do Evangelho, sem as falsas ilusões do mundo.

Todas as partes do corpo, da cabeça aos pés devem ser guardados com os recursos da fé em Cristo que serve de escudo com o qual não só o cristão se protege, como também neutraliza os dardos inflamados do maligno, apagando-os.

O Cristão Usa O Capacete da Salvação e A Espada do Espírito

O capacete do soldado do cristão é a consciência de ter sido salvo por Cristo em sua obra redentora.

A espada do Espírito, a palavra de Deus, foi usada por Cristo para vencer o inimigo (Mt 4.1-11). O cristão, seguindo o exemplo de seu Mestre, “maneja bem a palavra da verdade” (2 Tm 2.15). É um hábil espadachim no manuseio, entendimento, ensino e vivência da Bíblia. Mas essa arma é do Espirito (espada do Espírito). O Cristão não guerreia sozinho.

Acrescenta-se a tudo isso, a oração como fator de comunhão e ligação direta com Deus. Jesus também se utilizou desta arma constantemente em seu mistério.

Conclusão

Depois de ensinar às famílias cristãs a se conduzirem neste mundo de maneira a servir ao Senhor, Paulo ensinou sobre a batalha espiritual. Por que este assunto neste ponto do seu ensino? Cremos que isso se deve ao fato de que o Diabo está em guerra contra as famílias cristãs no intuito de embaraça-las, destruí-las.

Somente revestindo-se, isto é, cobrindo-se de toda armadura, todos os recursos de Deus a família cristã pode resistir ao mal e permanecer firme como vencedora (v. 11).

Agora, os recursos estão dispostos ao cristão. Basta que ele se revista. Esta é uma ação própria do crente. Deus já fez a parte dele e está disposto a fazer muito mais. Mas o cristão tem de tomar a iniciativa de usar os recursos que Deus disponibiliza para sua vitória sobre o mal.

Muitas famílias brasileiras que se dizem cristãs trocam o tempo precioso em que poderiam estar exercitando sua fé e se alimentando da palavra de Deus, que é a espada do Espírito, e gastam-no assistindo a novelas corruptoras, perversoras. Não é de se estranhar que a sociedade brasileira esteja tão corrompida.

Esta mesma sociedade se diz cristã, mas o que sabem de Cristo? O que sabem de Bíblia? E mais, o que vivem dos ensinos bíblicos? São soldados dormentes, e, portanto, derrotados.

Efésios 6 – Música de Anderson Freire

Referências

1 – Stott, John R. W., A Mensagem de Efésios, Trad. Gordon Clown, 3ª Ed., São Paulo.

2 – Foukes, Francis. Efésios, Introdução e Comentário. Trad. Márcio Loureiro Redondo, Edições Vida Nova e Editora Mundo Cristão, 2ª Ed., 1983, São Paulo

3 – Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, Vol. I e IV.

4 – Comentário Bíblico Broadmam, Vol. I e II